sábado, 29 de novembro de 2008

As esperanças depositadas no analista

























Leva no teu bumbar
Me leva
Leva que quero ver meu pai
Caminho bordado à fé
Caminho das águas
Me leva que quero ver
Meu pai...

A barca segue seu rumo lenta
Como quem já não
Quer mais chegar
Como quem se acostumou
No canto das águas
Como quem já não
Quer mais voltar...

Os olhos da morena bonita
Agüenta que tô chegando já
Na roda conta com o seu
Ouvir a zabumba
Me leva que quero ver
Meu pai...

domingo, 16 de novembro de 2008

Histerias e o Vício


Hoje eu lembrei da histeria. Não por vontade, por força maior de Rorschach.

Encontramos ligações entre histeria, teatralidade, expansividade excessiva e desonestidade.
E ao ler o escrito de Contardo Calligaris em http://contardocalligaris.blogspot.com/2008/11/mais-adultrios-virtuais.html#links pensei num adúltero, no nível orkutiano, ou de MSN, ou até de vida como um histérico, e se não histérico, um em potencial.
Se toda teatralidade de um histérico varia de acordo com as esperanças de sua platéia, imaginei um indivíduo histérico, e por sê-lo, altamente sedutor em completa consonância com um outro indíviduo masoquista. Ou ainda o traidor que quer ser descoberto, para escancarar o que o masoquista mais teme e deseja: sofrer de amor. Está travado o dilema dor-prazer. Está cravado o vício.
O histérico sabe do masoquista. Mas o masoquista não sabe do histérico. O masoquista se descobrir do histérico, perde a chance de viver esse trilema dor-prazer-culpa, então compra a idéia de si: incapaz, destruidor, manipulador, etc, tudo o que for componente de seus sentimentos mais cruéis e sofríveis... e amarra-se, prendendo-se ao que sente, ao que é, às culpas e dores.
O histérico prende-se ao outro e aqui deveria usar aspas, mas não vou. É que o histérico é sugestionável, afetado pelas cores dos outros. E, bingo, o masoquista amadurece, o histérico caminha junto. Fim. Não há pra onde correr, senão à um bom analista.
Muita gente deve chamar isso de amor, e quem poderá nos dizer que não é ou é? Já que ninguém conseguiu explicar esse sentimento todo mesmo.

'É ferida que dói e não se sente/ É um contentamento descontente/ É dor que desatina sem doer' - Camões

'Eu sou sua menina, viu? E ele é o meu rapaz
Meu corpo é testemunha do bem que ele me faz' - Chico

Voltando ao Contardo. 'O uso da internet para seduzir um ou uma amante e, entre um encontro e outro, seguir dialogando com ele ou com ela não difere substancialmente do uso de cartas ou telefonemas. Ou seja, os amores e adultérios virtuais propriamente ditos são apenas as relações que se mantêm sempre na virtualidade, embora possam ser afetivamente muito relevantes para os envolvidos -talvez mais relevantes do que as relações reais com o parceiro ou a parceira com quem eles vivem.' E aqui, com meu olhar histérico-masoquista, entendo que essas relações que se mantêm sempre na virtualidade, por parte de um histérico, são extremamente relevantes para seu parceiro masoquista e para a manutenção da relação. Conservam, amedontram, enrigecem e aprisionam.

"O destino nos uniu. Ela/ele é o amor da minha vida."
- Única pergunta de hoje: o 'destino' de um masoquista é encontrar um histérico para se sentir minimamente percebido?
Eu sinceramente aguardo respostas.
Obrigada pela atenção e leitura.

sábado, 15 de novembro de 2008

Você Não Gosta de Mim - Caetano Veloso

Você não gosta de mim
Não sinto o ar se aquecer
Ao redor de você
Quando eu volto da estrada

Por que será que é assim?
Dou aos seus lábios a mão
E eles nem dizem não
E eles não dizem nada

Como é que vamos viver
Gerando luz sem calor?
Que imagem do amor
Podemos nos oferecer?

Você não gosta de mim
Que novidade infeliz
O seu corpo me diz
Pelos gestos da alma!

A gente vê que é assim
Seja de longe ou de perto
No errado e no certo
Na fúria e na calma

Você me impede de amar
E eu que só gosto do amor
Por que é que não nos
Dizemos que tudo acabou?

Talvez assim descubramos
O que é que nos une
Medo, destino, capricho
Ou um mistério maior

resposta: o vício; os prazeres sem nome

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Vícios

Relendo minha última postagem, pensei:
'porque diabos escrevi: pq meu celular não toca quando seria mais importante que tocasse?'

hoje consigo responder essa pergunta.
não toca quando crescemos.
fiquei pensando num bebê, as always.
uma mãe tem algumas opções quando algo de ruim acontecesse com seu bebê. segurá-lo, compreendendo-o em sua existência, fisicamente e emocionalmente, prestando seu lamento e objetivando algumas soluções. e daí as opções pipocam.
- 'calma filho, seu brinquedo que vc mais ama quebrou, vou te comprar um igual amanhã'.
- 'calma filho, seu brinquedo que vc mais ama quebrou, mas como eu te dei ele há 1 ano atrás, acho até bom que seja uma oportunidade de comprar outro, para que seus objetos acompanhem seu desenvolvimento, quem sabe algo mais colorido, talvez? amanhã nós vamos na loja e voce escolhe, certo?'


na primeira opção, espero que voces, leitores, imaginem que essa mãe queira sanar uma dor imediata do filho, não proporciando sua própria reflexão, como num movimento de mandar o filho parar de chorar, acalmar sua angústia pontualmente.

na segunda opção, vemos uma mãe um pouco mais estruturada e realista, e ao mesmo tempo que exprime suas opiniões, acredita que seu filho seja capaz de encontrar algo que o satisfaça de acordo com suas próprias necessidades.

pergunta número 1: aonde está o vício nisso tudo, título de meu texto?
pergunta número 2: nos dois?
pergunta número 3: como fazer para romper com essa situação?

aguardo respostas, mas digo de antemão: a droga não gosta do usuário. o usuário que precisa da droga, por suas próprias sensações corporais.

pergunta número 4: a mãe gosta do bebê?

resposta do post anterior: meu celular não toca quando eu mais quero que toque numa tentativa original e genuína do mundo, que deve ser compreendida como minha grande possibilidade de crescimento, inovação e acima de tudo, movimento.

Dr. House, a série, enfatiza: 'people dont change'
e não mudam porque?
continuam aí, sem refletir, porque no final das contas o que é importa numa supervisão é poder conversar, frente à frente com seus medos e suas limitações. e, invariavelmente, a conversa é movimento.

pergunta número 5: House conversa?
resposta: não, expressa-se. por isso que 'people dont change'.

e aqui me desculpo pelo aparente determinismo. leia de novo, e entenderá que só 'change' quem tem movimento. palmas ao Rorschach.